sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Estrela

Estrela

Estrela que brilhas no alto do céu,
Quem em tons de castanho iluminas, com teus raios cor de mel,
Que meu coração, com força pérfida e crua arrancas-te
Que meu coração levas-te, sim, levas-te
Para aquela, que, cuja identidade não é aqui revelada,
Me come as entranhas revoltada.
Por isso estrela, aqui pereço perante ti,
Cuja missão é tirar a vida a quem com amor ama.
Poeta

Porquê?

Porquê?

Na infinidade dos porquês,
Tenho a alma mergulhada;
Se nem em mim crês,
É porque deves ser magoada.

Se ao vento perguntar,
Não obtenho resposta;
Se com afinco procurar,
Não a obtenho disposta.

Ao procurar encontro,
Não o que desejo encontrar,
Mas aquilo que realmente
Deveria querer achar…
Poeta

È stragno, è stragno

È stragno, è stragno


Estranho?
Quem? Eu...
Estranho dentro de mim!
O que me move?
A falsa esperança de algo,
de algo de bom que vem,
que vem ou virá, diga quem dirá,
se o Grande Mestre o permitirá,
não sei...
Estranho?
Da felicidade desviado,
da alegria privado;
A conclusão geral tirada
é a invalidez das acções infrutíferas;
Não vale o esforço...
Estranho?
Deitemo-nos agora
p'lo Fado embalados
e embora bem acordados...
Durmamos...
Poeta

Alma...

Alma…


Alma minha, pranto puro,
Agonia de vida que me corre nas veias;
Escrevo e não risco, não posso riscar.
Dera a mim ter um riscador de passados…

A vida passa e eu fico,
Sou a imagem desbotada de ninguém,
Alguém que olhou um dia o rio
E saiu correndo.

Sou a imagem desse alguém,
Que saiu correndo e ficou,

Ficou a sua imagem naquele rio.
Permaneço…

A imagem gravada desvanece.

O rio corre e a imagem passa,

Passo também eu, e acabo.
Dera a mim ter um riscador de passados…


Não vivo, existo…

Poeta

Olhares

Olhares

A chuva cai, o vento sopra, e nada muda;
Dois estranhos sob o resguardo das almas
Trocam olhares e pensamentos dissimulados,
alheios de tudo, do outro e deles mesmo;
Vejo o mundo com olhos de sentir.

Pode ser o nada, pode ser tudo;
Olhar penetrante, olhos negros,
Escuro da noite, avassala corações
.
E de repente, o vazio… O nada cheio de ar.
O mundo passa, a vida passa, e passo eu…
Poeta

Para começar...

SER POETA
"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendos
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!"
Florbela Espanca