segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Esta espécie de loucura
Que é pouco chamar talento
E que brilha em mim, na escura
Confusão do pensamento,

Não me traz felicidade;
Porque, enfim, sempre haverá
Sol ou sombra na cidade.
Mas em mim não sei o que há.



Fernando Pessoa



E não tenho mais nada a acrescentar, hoje, eu, sou este poema...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CHEGA, POR HOJE CHEGA - O FIM DE MIM


Por hoje chega, estou farto de mim... Não sei se sim se não, se talvez ou assim assim; estou farto e quero parar, parar de ser quem sou, será que sou alguém? ou sou apenas o reflexo do que outros querem que seja? Mas... O se passou afinal na minha vida? Para onde foi a estabilidade que tinha em mim? Aquele poder de fingir que tudo estava bem, onde está? Não, não quero mais fingir, quero ser quem sou e gritar, gritar que não, não está tudo bem!!! Que nervos de dias, que nervos de gestos, que nervos de acções, que nervos de mim... Porquê? Não posso continuar assim, em baixo e arrependido, fiz o que fiz, não fiz o que não soube fazer, mas tinha de dar errado... Quero bater com a mão na mesa e gritar 'CHEGA, POR HOJE CHEGA!!!' não aguento mais esta ansiedade, este querer ver mas não conseguir olhar, este diálogo seco e gestos banais mais de quem se odeia do que de quem se estima... Não consigo mais suportar a falta, sim a falta que alguém faz na vida pálida que levo, falta do conforto dos braços que me faltam... Quero gritar 'CHEGA, POR HOJE CHEGA!!!' Queria ver, luz ao fundo do túnel, mas não há luzes aqui, só frio e escuro... Gostava de ter coragem, coragem para correr agora, até onde estás e dizer-te: "CHEGA, POR HOJE CHEGA!!!" e abraçar-te assim, como o vento nos abraça na rua, forte e arrebatador; acabar com este sufoco que tenho na alma, esta ânsia de ter nos braços...

Sinto-me como uma onda que está prestes a rebentar...

domingo, 13 de dezembro de 2009

Hoje...


Hoje, escrevo em prosa, não há poesia que me corra na alma, apenas um simples vazio, aquela mão cheia do nada que me preenche, hoje...
Não consigo pensar em nada, mas ao mesmo tempo, a minha cabeça transborda com um pensamento, 'O que é a vida? O que fiz eu da vida, ou melhor, o que é que eu fiz para merecer esta vida?' Absolutamente nada... Tenho tudo o que preciso, tenho muito que comer, tenho tecto onde dormir e saúde nunca me faltou, tenho amigos, sei ler e escrever, e a partir daí não devia haver mais nada que eu ousasse querer, o céu é o limite... Mas não, pobre mortal imundo de pensamento, sempre descontente, sempre rosnando pela vida que não tem... 'Que vida é essa?'; será que existe algo para além do que me é necessário para viver que eu ainda teime em pedir? Ou criei eu um mundo só meu, um ideal de mundo cinematográfico, quase utópico, inacessível? Que me impede de ver o que já tenho, que me obriga a vagabundear por esse mundo, a ser um eterno diletante de pensamento; porque não estou eu contente com a vida que tenho, se por esta não paguei nada, nem fiz nada para merecer... Oh pensamento ruim... Porque não me deixo viver a vida, porque tenho sempre de achar que não merece ser feliz?
Está escuro já, e não tenho mais que dizer se não que deixar esta pergunta para mim mesmo: "Estás nesse canto escuro do universo porque queres, ou porque simplesmente te resignas-te a ficar de lado?"

Deixo também este quadro de Salvador Dalí... é assim que estou hoje, vazio numa casa vazia a olhar para o cinzento vazio que jaz lá fora...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Nós os dois...

Sob os céus luados
Nem medos nem fados,
Nem vento do norte,
Nem anúncios de morte.

Sob os céus luados
Nem trevos nem cravos,
Nem espinhos agudos,
Nem cedros troncudos.

Sob os céus luados
Nós os dois abraçados,
Nao sao sonhos, irreais,
Mas nós os dois, nada mais...



Nas escadas sentados
Nem choros nem miados,
Nem calor ou alegria,
Nem frio, apatia.

Nas escadas sentados
Nem quentes nem gelados,
Nem amor ou ardor,
Nem alegria, sensabor.

Nas escadas sentados
Nós os dois apartados
Não são palavras surreais,
Mas solidão, nada mais.


Nem sei se sou eu que escrevo estas palavras ou se é o estranho que reside dentro de mim...